Um Blog Guia para Portos & Destinos ao Redor do Mundo

Puerto Princesa, Filipinas: A Jornada até o Famoso Rio Subterrâneo

A chegada a Puerto Princesa é um convite para explorar um dos destinos mais fascinantes das Filipinas: o Parque Nacional do Rio Subterrâneo. Esta jornada, que começa com o desembarque no porto simples e acolhedor, leva você por um trajeto cênico até a entrada de uma das cavernas mais impressionantes do mundo. A travessia até o Rio Subterrâneo é uma experiência e tanto, cheia de emoção e adrenalina. Mas, como toda boa aventura, há desafios pelo caminho, e é importante estar preparado para cada momento. Neste artigo, compartilho todos os detalhes dessa jornada inesquecível, desde a travessia de barco até a experiência dentro da caverna. Prepare-se!

ÁSIAFILIPINASPUERTO PRINCESAOCEANO PACÍFICO

The Roaming Purser

3/7/202520 min read

Entrada do rio subterrâneo de Puerto Princesa, com formações rochosas ao redor.
Entrada do rio subterrâneo de Puerto Princesa, com formações rochosas ao redor.

Puerto Princesa: Escolhas e Surpresas Antes do Underground River

Se o seu cruzeiro passa pelo Sudeste Asiático, é bem possível que você já tenha aportado em Manila, cada vez mais presente nas rotas da região. No meu caso, Manila acabou ficando em segundo plano. E não foi por falta de interesse, mas por um motivo muito claro: eu queria guardar todas as minhas energias e o máximo de tempo off para Puerto Princesa. Meu único objetivo? Fazer o tour até o famoso Underground River.

O que eu não imaginava era que aquela escolha me levaria a um dos dias mais intensos — e, por que não dizer, emocionantes — que vivi durante aquele contrato. Uma excursão cheia de adrenalina, aventura, natureza bruta e momentos que me fizeram sentir completamente viva. Sou grata por ter participado, sem dúvida. Mas também admito: é o tipo de experiência que, se fosse hoje, talvez eu não repetisse.

Mas antes de te contar tudo isso em detalhes, deixa eu te situar…

Foto da autora do blog Puerto Princesa.
Foto da autora do blog Puerto Princesa.

Elisa Magalhães

Chegada a Puerto Princesa com dançarinas típicas e vista do porto.
Chegada a Puerto Princesa com dançarinas típicas e vista do porto.

Chegando a Puerto Princesa de Navio: Primeiros Sinais de um Dia Inesquecível

A chegada de navio a Puerto Princesa é daquelas que ficam marcadas na memória. Mesmo antes de atracar, a paisagem já te dá pistas do que te espera em terra firme: o mar calmo, de um azul quase irreal, se estende até onde a vista alcança, emoldurado por vegetação tropical densa e montanhas que surgem aos poucos, como se estivessem guardando algum segredo. O calor úmido e denso te abraça já na prancha, sinal claro de que você desembarcou no coração das Filipinas.

O porto é simples, nada turístico, e funciona quase como uma extensão do vilarejo: discreto, eficiente e rodeado por uma movimentação intensa de gente que vai e vem, vendendo, organizando, observando. O desembarque costuma ser ágil — especialmente se, como eu, você estiver participando de uma excursão organizada pelo navio. Aliás, para esse destino específico, essa é uma escolha que faz toda a diferença, pela logística e pela distância entre o porto e o principal atrativo da região, o Underground River.

Já do navio dá pra sentir que Puerto Princesa é um lugar à parte, quase como um mundo dentro de outro. Não há nada de luxuoso, mas há um charme cru, autêntico, que vai se revelando nos detalhes. A primeira impressão é de simplicidade — mas a segunda, e todas as que vêm depois, são de uma beleza que vai crescendo em silêncio e, quando você percebe, já te ganhou por inteiro.

Casa simples em vilarejo próximo a Puerto Princesa.
Casa simples em vilarejo próximo a Puerto Princesa.

O Vilarejo Que Te Abraça Sem Pressa

Puerto Princesa não é uma cidade cenográfica. É real, vivida, imperfeita e profundamente acolhedora. Caminhar por suas ruas é como ser convidada a participar de uma rotina que não foi criada para agradar turistas, mas que encanta justamente por isso. É o tipo de lugar que não tenta ser o que não é — e, talvez por isso mesmo, conquista tanto.

As construções são simples, muitas feitas de madeira, com varandas que parecem sempre abertas, como se esperassem visitas. Crianças correm pelas calçadas, vendedores conversam entre si, e tudo acontece no ritmo natural de quem não tem pressa. Não há grandes shoppings nem avenidas largas. O que há são mercadinhos locais, barbearias improvisadas, padarias com cheiro de pão recém-assado, igrejinhas coloridas e a vida acontecendo diante dos olhos.

O turismo é parte importante da economia local, mas não ofusca o dia a dia da comunidade. Pelo contrário: ele se entrelaça com a rotina dos moradores, criando um ambiente onde o visitante não é um intruso, mas alguém que é recebido com curiosidade e gentileza. Muita gente vive aqui do que o mar e a terra oferecem — e também da arte de bem receber. Dá pra sentir isso nos detalhes: no cuidado com que servem uma refeição, na forma como explicam um caminho, no sorriso com que oferecem ajuda sem esperar nada em troca.

Puerto Princesa não grita suas belezas. Ela sussurra. E, se você parar para ouvir, vai descobrir que algumas das lembranças mais bonitas de uma viagem nascem assim: sem roteiro, sem pressa, sem filtro.

Pequenos comércios locais no caminho até Sabang.
Pequenos comércios locais no caminho até Sabang.

O Caminho Até Sabang

A saída do porto de Puerto Princesa em direção ao Underground River já é uma jornada em si. O trajeto de estrada até a vila de Sabang, de onde saem os barcos para o rio subterrâneo, leva em média 1h30 a 2h, dependendo do trânsito e das condições da estrada.

São cerca de 80 quilômetros, mas não se engane: o tempo passa devagar, especialmente em alguns trechos onde o asfalto simplesmente desaparece. Como estávamos em uma van, deu pra sentir bem cada buraco — e se você é do tipo que enjoa fácil, já se prepara desde aqui com um remédio ou o seu truque favorito pra driblar o mal-estar.

Como não havia guia com a gente, o caminho foi todo na base da observação. Aos poucos, a paisagem vai mudando — a cidade vai ficando pra trás e o cenário mergulha de vez numa zona rural onde a vida simples é a norma. Casas de madeira com telhados de zinco, crianças brincando à beira da estrada, pequenas plantações, mercados improvisados, moradores indo e vindo em motos e triciclos.

Em cada vilarejo por onde passamos, a sensação era a mesma: movimento, vida pulsando, uma rotina que seguia seu ritmo mesmo com a presença constante de vans de turistas. A natureza ao redor também chama atenção: vegetação densa, palmeiras altíssimas, florestas que parecem não ter fim, tudo vibrante, verde, vivo. Era impossível não contemplar.

Comércio local cercado por vegetação em Sabang.
Comércio local cercado por vegetação em Sabang.

Sabang: A Última Parada Antes da Aventura

Ao chegar em Sabang, a atmosfera muda. A estrada dá lugar a um vilarejo à beira-mar, com uma vibe rústica, cheia de cor e de gente circulando para lá e pra cá, cuidando da logística dos passeios. É aqui que você faz uma pequena pausa antes de embarcar no barquinho que te levará até o parque nacional.

E é também o momento ideal para resolver tudo o que for necessário: comer, usar o banheiro, comprar água, um chapéu ou protetor solar. Do outro lado da ilha — já dentro da área protegida — a estrutura é bem mais restrita.

Os bares e barraquinhas em Sabang são simples, mas cheios de autenticidade. Tudo é preparado ali, na sua frente, com ingredientes locais — desde pratos típicos até drinks e cocktails tropicais. Se tiver tempo, vale aproveitar esse intervalo não só pra se abastecer, mas pra observar um pouco da vida local.

Muita gente vive aqui do turismo, e dá pra sentir isso em cada detalhe: no ritmo tranquilo, nas conversas entre os moradores, na maneira como tudo gira em torno desse passeio que, por si só, já transformou a vila em ponto obrigatório nos roteiros pela ilha de Palawan.

Barco da autora durante a travessia de Sabang até a entrada do rio subterrâneo.
Barco da autora durante a travessia de Sabang até a entrada do rio subterrâneo.

A Travessia: Entre Mar e Selva, a Caminho do Rio Subterrâneo

Saindo de Sabang, a travessia até a entrada do Puerto Princesa Subterranean River National Park é feita em pequenas embarcações de madeira, com cobertura de lona e motor de popa — simples, diretas, mas surpreendentemente ágeis. A distância até a área do parque não é longa, cerca de 15 a 20 minutos de navegação, mas o trajeto é parte essencial da experiência. E que experiência.

A velocidade é moderada — rápida o suficiente pra cortar o mar com firmeza, mas lenta o bastante pra permitir que você observe a paisagem com calma. O piloto conduz a embarcação com uma precisão impressionante, mesmo sem instrumentos sofisticados. Eles conhecem cada curva, cada recife, cada onda traiçoeira.

Navegam próximos à costa, e isso faz toda a diferença: à medida que avançamos, fomos brindados com vistas panorâmicas da ilha de Palawan, com sua vegetação densa caindo sobre encostas íngremes, paredões de pedra que parecem ter sido esculpidos à mão, e o contraste hipnotizante entre o verde profundo da selva e o azul turquesa do mar.

Em alguns trechos, o mar faz o barco subir e descer num movimento ritmado que pode até parecer brincadeira de parque aquático — e, para os mais aventureiros, isso só aumenta o charme do passeio. Mas vale o aviso: se você enjoa fácil, esse trecho pode ser desafiador.

O uso do colete salva-vidas é obrigatório durante todo o percurso, e o ideal é se manter sentado, com as mãos livres para se apoiar quando necessário. A embarcação balança, sim, mas é tudo feito com controle e segurança.

O barquinho avança, a brisa bate no rosto, e mesmo antes de chegar ao destino final, a sensação é de que já valeu a pena. É aquele tipo de trajeto em que ninguém fala muito. A gente só observa. E sente.

Autora na entrada do rio subterrâneo com placa indicativa e macaco ao fundo.
Autora na entrada do rio subterrâneo com placa indicativa e macaco ao fundo.

Primeiros Passos na Selva: A Porta de Entrada para o Underground River

Chegando ao parque, o desembarque é feito direto na praia, com o apoio de guias locais que já aguardam os visitantes em terra. Todos descem com segurança, com os pés na areia fina e clara daquela pequena faixa costeira cercada por mata densa. É um daqueles momentos em que você para por um segundo, olha em volta e percebe que está prestes a entrar em um lugar realmente especial.

Ali mesmo, antes de seguir para a entrada da caverna, é possível caminhar por uma pequena trilha de madeira entre árvores nativas e conhecer um pouco mais da história do Underground River através de placas informativas distribuídas ao longo do caminho. É também ali que você percebe que a ilha é, de fato, viva. E isso inclui os seus habitantes mais curiosos: os macacos.

Eles circulam livremente pela área, principalmente próximos aos pontos de parada dos visitantes. São pequenos, rápidos e, claro, atentos a qualquer oportunidade de conseguir comida. Mas os próprios locais avisam: evite contato, não ofereça nada e, se possível, mantenha seus pertences bem guardados. Eles já estão tão acostumados à presença humana que chegam perto sem cerimônia.

Depois dessa rápida ambientação, começa a preparação para entrar no rio. Os grupos são chamados com base na organização dos guias locais, e é nesse ponto que você recebe o equipamento obrigatório: colete e capacete com iluminação. Tudo é controlado com muito cuidado, e os visitantes são divididos em grupos pequenos para não sobrecarregar o ambiente natural.

A entrada na caverna não é feita de qualquer jeito — há todo um processo, e essa espera silenciosa à sombra das árvores, ouvindo os sons da floresta e sentindo o frescor vindo da boca da caverna, já é parte da experiência.

Autora e grupo no barco, iniciando a entrada na caverna do rio subterrâneo.
Autora e grupo no barco, iniciando a entrada na caverna do rio subterrâneo.

A Entrada para o Mundo Subterrâneo: A Jornada até o Underground River

Quando você vê o seu barquinho chegando, pequeno e simples como todos os outros, é ali que a realidade se impõe: vai começar. Um a um, todos vão se posicionando com o colete e o capacete ajustados, enquanto o guia assume seu lugar na parte de trás da canoa e começa a remar, com calma e firmeza, rumo à entrada da caverna. O som dos remos cortando a água é quase hipnótico.

Logo nos primeiros metros, a boca da caverna começa a tomar forma diante dos seus olhos — e com ela, a dimensão do que te aguarda. As formações rochosas se impõem em silêncio, esculpidas ao longo de milhares de anos. E é impossível não reparar nos outros barquinhos voltando, cada um com rostos iluminados, olhares surpresos, sorrisos sinceros — como se estivessem voltando de outro mundo.

À medida que se avança, a luz do sol vai ficando para trás. Aos poucos, ela desaparece completamente. De repente, tudo o que você vê é o que está dentro do facho de luz da lanterna fixada no capacete do guia. É ele quem direciona essa luz, apontando para as formações ao longo do caminho.

E começa a falar. O tom é quase como um briefing, um chamado à consciência do lugar em que estamos entrando. Pede para que ninguém coloque a mão para fora do barco, que evitem tocar na água ou em qualquer estrutura da caverna durante todo o passeio. Há respeito ali — não só pelo ambiente, mas pela experiência coletiva.

E então, o passeio começa de verdade!

Formações rochosas no interior da caverna do rio subterrâneo.
Formações rochosas no interior da caverna do rio subterrâneo.

Explorando o Silêncio da Caverna

Você está navegando por uma trilha de água no interior da caverna subterrânea navegável mais longa do mundo. E, de repente, é só o seu barco ali dentro. Só ele. O resto é escuridão e som.

O barulho dos remos cortando a água ecoa de um jeito que arrepia. Aqui e ali, você ouve o gotejar constante das estalactites, pingando do teto da caverna em ritmos quase meditativos, e o som ganha vida própria quando rebate nas paredes de pedra. É uma espécie de silêncio ativo — o tipo de silêncio que te faz prestar atenção em tudo. Inclusive nos sons vindos do alto.

São os morcegos. Muitos morcegos. Para lá e para cá, habitando aquele espaço com naturalidade. Eles estão quietos, vivendo a rotina deles, e não parecem ameaçados pela presença humana — mas a gente sabe que está só de passagem. Em alguns trechos, há tantos voando sobre nossas cabeças que é impossível não sentir certo incômodo. Eu, por exemplo, me contive. Fiquei um pouco mais rígida no banco, atenta ao movimento deles.

Ainda assim, a travessia segue. E tudo ali dentro é tão maior do que qualquer desconforto.

E é aí que as estalactites começam a se revelar. Uma a uma, em formas quase impossíveis de descrever. É como se a natureza tivesse passado séculos ali dentro esculpindo cada detalhe com um cuidado que desafia qualquer lógica. E por mais que se tente registrar em fotos, nenhuma imagem consegue captar o que os nossos olhos veem ao vivo, ali, naquele breu cortado apenas pelo facho da lanterna no capacete do guia.

No escuro, cada formação ganha vida quando a luz a toca. Você vai ouvindo os nomes dados a cada uma delas, batizados por quem já conhece bem aquele percurso. E então surge a “popa do Titanic” — a silhueta impressionante esculpida em pedra, que parece flutuar no meio da escuridão. É só uma pedra, mas naquele contexto... parece muito mais.

Mas o ponto alto, sem dúvida, é quando o guia ilumina aquela que é chamada de Sagrada Família. O barco para por um instante. Todos ficam em silêncio. A formação é tão detalhada, tão surreal, que você se pega pensando: “Não, alguém veio aqui e fez isso”. É impossível imaginar que tudo aquilo tenha sido obra apenas do tempo, da água e da pedra. Impossível.

E é por isso que os filipinos acreditam que esse lugar, além de ser uma maravilha natural, é também sagrado. Porque há algo ali dentro que escapa à explicação simples. E, sinceramente, não precisa explicar. Basta estar presente, de olhos e coração abertos, para entender.

Autora e guia saindo da caverna subterrânea, com a entrada da caverna ao fundo.
Autora e guia saindo da caverna subterrânea, com a entrada da caverna ao fundo.

De Volta à Luz: O Reflexo da Experiência Subterrânea

Após essa pequena pausa diante da Sagrada Família — que mais parece uma obra esculpida à mão do que fruto da natureza — o barquinho faz a curva. É ali que começa o retorno. E logo você percebe que não está só. De repente, vê outros barcos chegando, outros saindo, cruzando seu caminho num balé silencioso dentro da escuridão. Essas embarcações, mesmo discretas, acabam por iluminar mais o espaço, revelando formas e contornos que na ida talvez tenham passado despercebidos.

O caminho de volta é quase como rever um filme, só que por outro ângulo. A cada remada, o cenário se transforma, mostrando sua grandiosidade por um novo ponto de vista. E mesmo já tendo passado por ali, é como se você visse tudo pela primeira vez. Há algo naquele ambiente que não se repete igual — o reflexo da luz muda, a água brilha diferente, as formações revelam detalhes novos.

O reencontro com os morcegos acontece também. Mas agora, depois de tê-los observado em ação, o sentimento já é outro. O susto dá lugar ao respeito, ao entendimento de que eles são parte essencial daquele lugar.

E é nessa parte do trajeto que, de vez em quando, a lanterna bate em cheio na superfície da água e o que você vê é quase hipnótico: o reflexo do teto, das pedras, dos remos... e a correnteza. Ela flui ali embaixo, serena à primeira vista, mas constante. Porque por mais que pareça tudo calmo, ali dentro, nada está parado. O rio está sempre seguindo, como tudo na natureza.

E então, lentamente, a luz do sol começa a reaparecer. Primeiro tímida, filtrada entre as pedras da entrada da caverna, e depois mais clara, mais viva. À medida que o barco se aproxima da saída, você vê aquele verde translúcido da água brilhando à frente, como se o rio estivesse te conduzindo de volta ao mundo real com delicadeza.

É impossível não sorrir nesse momento. O contraste entre a escuridão da caverna e a luz lá fora parece simbólico. E quando o barco cruza de volta para o lado de fora, quase sempre há um som coletivo de alívio e celebração — um grito espontâneo, uma salva de palmas, risadas soltas. É o tipo de experiência que une até quem mal trocou palavras durante o trajeto.

E claro, os celulares entram em ação. Selfies, vídeos, tentativas de capturar aquele instante em que se retorna à superfície, à luz, com o coração ainda cheio do que foi visto e sentido lá dentro.

O barco segue até o pequeno píer de onde partimos, agora recebendo novos viajantes ansiosos para viver o que acabamos de viver. E mesmo já do lado de fora, com os pés firmes na areia, ainda há um certo silêncio entre o grupo — talvez cada um precisando de um minuto a mais para digerir tudo o que aquela travessia despertou.

Vista da entrada da caverna com águas claras refletindo a luz.
Vista da entrada da caverna com águas claras refletindo a luz.

O Que Você Precisa Saber Sobre o Famoso Rio Subterrâneo Após Vivê-lo

O Rio Subterrâneo de Puerto Princesa é um daqueles lugares que desafiam qualquer explicação rápida. Localizado dentro de um parque nacional na ilha de Palawan, ele é considerado um dos rios subterrâneos navegáveis mais longos do mundo, com 8,2 km de extensão total. Desse total, apenas 1,5 km são acessíveis aos visitantes durante o passeio tradicional – e posso dizer que esse trecho já é suficiente pra deixar qualquer um de queixo caído.

A travessia dentro da caverna leva em média 45 minutos, ida e volta, sempre em silêncio respeitoso, já que além da beleza geológica, estamos diante de um ambiente frágil e sagrado para os locais. O passeio é feito em pequenas canoas, com capacidade limitada, e sempre com colete salva-vidas e capacete com lanterna, que o guia utiliza para iluminar as formações.

Mas e a água? Tão limpa que dá até vontade de tocar – mas não pode. E o motivo é mais sério do que parece: além da preservação, existe uma correnteza subterrânea forte que segue curso até o mar. Por mais calma que a superfície pareça, a força da água lá embaixo é real. Em alguns pontos, a profundidade chega a 80 metros. É por isso que se alguém caísse ali – o que, claro, é raro – a situação seria de risco real. Inclusive, já houve incidentes em que embarcações precisaram ser resgatadas em dias de mar mais agitado, principalmente fora da caverna, durante a travessia de Sabang.

A temperatura da água costuma ficar entre 27°C e 30°C, e essa constância ajuda na manutenção do ecossistema local, que é riquíssimo. A caverna, por sua vez, não tem uma saída para visitantes – o barco entra até determinado ponto e depois faz o retorno. Mas o rio, sim, segue seu curso até desaguar no Mar da China Meridional, o que também faz com que parte dele seja influenciada pelas marés.

E talvez por tudo isso – pela força silenciosa, pela beleza impossível de descrever, pelas histórias e pelo respeito com que os filipinos olham para esse lugar – o rio subterrâneo seja considerado não só uma maravilha natural, mas também um lugar sagrado. Depois de passar por lá, fica fácil entender por quê.

Grupo se preparando para a volta a Sabang, com barcos alinhados à espera.
Grupo se preparando para a volta a Sabang, com barcos alinhados à espera.

Retorno ao Porto: Sabang Espera

Depois que o último flash se apaga, os coletes são recolocados e os barquinhos se reposicionam na beira da areia, é hora de se despedir desse lugar mágico. O retorno acontece pelo mesmo caminho: embarcamos novamente nas pequenas lanchas que nos levaram até ali, e o trajeto de volta até Sabang é mais tranquilo – não porque o mar tenha mudado, mas porque agora a gente volta com o coração cheio e a cabeça ainda tentando processar o que viveu.

Os pilotos, com a mesma destreza impressionante, conduzem as embarcações margeando a costa. A paisagem que antes era só expectativa, agora vira despedida. Dá pra ver novamente as encostas verdes, as falésias, a vegetação exuberante que beira o mar e as ondas que quebram lá longe. Em alguns trechos, o barco sobe e desce com mais balanço, e você sente o corpo dançar junto com o mar – mas agora, parece que a gente embarcou no ritmo.

É aquela volta em que ninguém fala muito… alguns ainda olhando o horizonte, outros quietos revendo o passeio mentalmente. E então, quando Sabang começa a surgir outra vez no horizonte, com suas casinhas coloridas, barcos ancorados e o pier de madeira nos aguardando, bate aquela sensação gostosa de missão cumprida.

O retorno não é só um fim – é parte da experiência. E ao pisar de novo na vila, você sabe: esse foi um daqueles dias que ficam pra sempre.

Vista da praia próxima à entrada do Rio Subterrâneo, com mar calmo e vegetação ao fundo.
Vista da praia próxima à entrada do Rio Subterrâneo, com mar calmo e vegetação ao fundo.

A Volta ao Porto: De Sabang ao Encanto Final

Depois de um dia intenso e inesquecível, é hora de começar o retorno ao porto de Puerto Princesa. Essa é uma excursão que pode durar até sete horas no total, dependendo do ritmo do grupo e das condições do mar e da estrada. A volta acontece exatamente pelo mesmo caminho: primeiro a travessia de barco de Sabang até o pier, depois o trajeto de van cruzando vilarejos, paisagens rurais e os trechos mais acidentados da estrada – tudo até reencontrar o navio nos aguardando atracado ali, quieto, como quem já sabe que cada passageiro volta com algo novo pra contar.

Se um dia você estiver por aqui, eu recomendo fazer essa excursão com o navio, principalmente por conta da logística. A distância é considerável, há vários meios de transporte envolvidos e o parque tem regras bem específicas. Com a excursão do navio, você já tem tudo incluído: transporte ida e volta, travessia de barco até o parque e acesso ao passeio dentro da caverna. A parte da alimentação, no entanto, é por sua conta — então vale se planejar.

Não espere luxo: esse não é o tipo de passeio para quem procura conforto ou comida refinada. A estrutura é simples, local e rústica, o que faz parte da experiência, mas pode ser um desafio pra quem tem restrições alimentares ou exige mais cuidado com higiene. Como já mencionei, o vilarejo é humilde, e embora o turismo movimenta a região, tudo ainda é muito básico.

Mas o que falta em sofisticação, sobra em autenticidade. E talvez seja justamente isso que torna Puerto Princesa tão especial: ela te tira da zona de conforto e te convida a ver beleza onde a pressa ou o padrão poderiam passar batido.

Autora segurando notas de peso filipino, com cenário local ao fundo.
Autora segurando notas de peso filipino, com cenário local ao fundo.

Custos, Sabores e Memórias: O que Esperar na Viagem

Como já comentei lá no início, se você quiser comprar alguma lembrancinha, água, chapéu, protetor solar ou até um souvenir típico, o melhor momento pra isso é a chegada a Sabang — ou então, na área externa do porto de Puerto Princesa antes de embarcar de volta. Mas atenção: na volta ao porto, especialmente se houver mais de um navio atracado, o movimento pode ser intenso e podem se formar filas. Se você estiver com horário apertado para embarcar, vale avaliar bem o tempo.

Com relação à alimentação, espere gastar pelo menos uns 20 dólares para conseguir fazer uma refeição completa durante o passeio — especialmente se optar por algum prato com frutos do mar ou drinks preparados na hora. Os bares e quiosques são simples, mas geralmente preparam tudo ali, fresquinho, na sua frente. Ainda assim, trazer alguma fruta ou lanche rápido na mochila pode ajudar, principalmente se você tiver pouco tempo entre uma parada e outra.

E claro… nada como chegar de volta ao navio e fazer aquela refeição digna, que só quem já trabalhou ou viajou de cruzeiro sabe o que significa. Seja no buffet, no restaurante de tripulantes ou na sua cabine com serviço de quarto, a comida de bordo ganha outro valor depois de um dia desses.

Clima e Condições: O Que Você Precisa Saber Antes de Visitar Puerto Princesa

Puerto Princesa, como boa parte do sudeste asiático, tem um clima tropical e úmido durante praticamente o ano todo. O calor é constante, com temperaturas médias girando em torno de 28°C a 32°C, e a umidade é aquela que você sente já nos primeiros passos fora do navio. A temporada de cruzeiros por essa região costuma acontecer entre novembro e abril, período que coincide com a estação seca — e mesmo assim, chuvas rápidas e pontuais podem acontecer, então vir preparado com uma capa de chuva ou guarda-chuva compacto nunca é demais.

Agora, dentro da caverna, o clima muda completamente: a temperatura cai alguns graus, o ar é mais denso, úmido e tem um cheiro característico de caverna e colônia de morcegos, algo entre o calcário e o orgânico. Não chega a ser desconfortável, mas é bom saber que o ambiente é fechado e bastante silencioso — o que pode causar certa tensão em quem tem claustrofobia.

Esse contraste entre o calor úmido do lado de fora e o frescor sombrio da caverna só torna tudo ainda mais impactante. A transição é quase cinematográfica: debaixo do sol forte você entra numa fenda escura onde tudo muda, inclusive o som, a luz e o ritmo do passeio.

Autora sorrindo ao final do tour pelo Rio Subterrâneo, com vegetação tropical ao fundo.
Autora sorrindo ao final do tour pelo Rio Subterrâneo, com vegetação tropical ao fundo.

Puerto Princesa: A Experiência que Vou Levar para Sempre

Esse é o tipo de porto e excursão que eu nunca vou esquecer. A beleza e a simplicidade de Puerto Princesa tem um jeito único de te abraçar — e é difícil colocar em palavras o que esse lugar transmite. Tem que sentir pra entender. O cenário natural impressiona, claro, mas o toque mais especial das Filipinas está nas pessoas. Seja em Manila ou aqui, em Puerto Princesa, o calor e o acolhimento do povo filipino são incomparáveis. Eles têm uma hospitalidade genuína, e falo isso também com o coração cheio, lembrando de tantos colegas filipinos com quem trabalhei a bordo. Ninguém cuida tão bem dos turistas quanto eles.

O Wi-Fi em Puerto Princesa não é tão acessível quanto em grandes cidades, e pode ser bem limitado. A maioria dos locais turísticos, incluindo restaurantes e algumas lojas de souvenirs, oferecem Wi-Fi gratuito, mas a qualidade da conexão pode ser inconsistente, especialmente em áreas mais afastadas, como Sabang.

As coisas por aqui não são caras. O preço costuma ser justo e, se por acaso você sentir que foi cobrado diferente só por ser turista, vale tentar negociar com jeitinho. Ao usar serviços locais, uma gorjeta é sempre bem-vinda — um gesto que eles recebem com gratidão e carinho. Eu sempre me senti segura nos portos filipinos, especialmente porque saí muitas vezes com colegas locais que faziam questão de nos orientar sobre segurança.

Ainda assim, é importante dizer: Puerto Princesa está numa região mais afastada, e se você estiver viajando por conta própria, atenção redobrada. Embora crimes contra turistas sejam raros, podem acontecer, e há relatos de roubos e sequestros em áreas mais isoladas. Se você estiver pensando em explorar sozinha, especialmente sendo mulher, minha recomendação é clara: não vá. Prefira excursões organizadas, vá acompanhada ou, no mínimo, muito bem informada.

Puerto Princesa me marcou. E se um dia você tiver a chance de colocar os pés aqui, vá de coração aberto — e prepare-se para levar um pedaço das Filipinas com você de volta.

Ah, e não esqueça de levar dinheiro em espécie. Nessas áreas mais remotas, o uso de cartões é bem limitado — a preferência é sempre pelo dinheiro vivo. Em praticamente qualquer lugar aceitam dólares americanos, mas se você tiver tempo de trocar um valor para a moeda local (peso filipino), pode facilitar bastante as coisas, além de evitar arredondamentos desfavoráveis nas conversões improvisadas. Seja para pagar um tuk tuk, comprar um souvenir ou tomar um drink em Sabang, ter notas menores em mãos é essencial.

Muito obrigada por me acompanhar nessa aventura pelas Filipinas — foi especial reviver cada momento com você. Se gostou do relato, convido você a explorar outros artigos aqui no blog e continuar viajando comigo pelo mundo!